quinta-feira, 26 de maio de 2011



Minas Sem Censura: Benvindos ao “Matrix” de Aécio Neves





Com a palavra, Olavo Machado Júnior

          Presidente da Federação das Indústrias do Estado de Minas Gerais – FIEMG -   Olavo Machado, comparecendo a evento promovido pela Assembleia Legislativa[i], foi enfático: suas palavras iriam provocar um “choque de realidade” sobre a economia do estado.
         Criticando “os discursos grandiosos” sobre a indústria regional, o insuspeito presidente da FIEMG traça um quadro dramático de Minas. Em termos bem sintéticos e esquemáticos, eis o diagnóstico que ele faz do estado governado por sete anos e três meses, pelo tucano Aécio Neves:

* Nos próximos 20 anos, o Mundo e o Brasil crescem, e Minas não está preparada disputar mercados. Falta investimento em inovação, infraestrutura, logística, em capacitação e formação profissional, ausência de política estadual de crédito etc, que geram perda de competitividade e consolidam nossa dependência da exportação de commodities (minério e produtos agrícolas).
* Das 120 mil empresas industriais do estado, 62 mil “não geram emprego algum na indústria”; 30 mil possuem “de 1 a 4 empregos”; 22 mil tem até 29 empregos formais; em suas palavras “mais de 90% desse universo imenso de empresas não apresentam produtividade, escala e inovação em processos e produtos para operar e concorrer globalmente”. E ressalta que os indicadores da economia brasileira demonstram a ampliação exponencial do consumo de massa, o que exigiria “um efetivo e consistente processo de desenvolvimento econômico e social”, para que Minas disputasse parcela desse mercado emergente.
* A produtividade da “nossa indústria” está 5% abaixo da média brasileira e 20% da paulista; e é inferior à média nacional em 69 setores, sendo que em 25 destes, essa menor produtividade ainda manifesta “comportamento de queda” nos últimos 10 anos. O Valor da Transformação Industrial – VTI – mineiro é 20% inferior à média nacional e 40% menor na relação com São Paulo. As gigantes estatais mineiras (CEMIG, COPASA, CODEMIG) fizeram compras “mínimas ou insignificantes” de fornecedores mineiros.

A carga tributária estadual é “excessiva e concentrada”.

          Enfim, as propostas da FIEMG para a superação desse quadro poderiam ter sido adotadas há oito anos, impactando a condição atual da competitividade da economia regional: readequação tributária, formação e capacitação profissional, política creditícia, incentivos estaduais e municipais diversos etc. Sua excelência, o senador Aécio Neves, ainda que não seja, de fato, um economista (na verdade é apenas bacharel) tinha e tem conhecimento desses números.
          Sabe ele muito bem, portanto, o que significa desindustrialização. Ao falar desse fenômeno brasileiro, que é ameaça real, deveria mencionar a condição de “vanguarda” do estado por ele governado, no citado processo.

Da desindustrialização à reprimarização da economia mineira

          A revista Mercado Comum[ii], nº 216, traz “Os números da economia mundial, brasileira e mineira” de forma minuciosa, ampla, com análises qualificadas e opiniões de lideranças empresariais e políticas. Sem prejuízo dos justos destaques daquilo que é de responsabilidade federal e até mesmo mundial, como no caso dos artifícios cambiais da China, a revista apresenta uma unanimidade: Minas está aquém de si mesma, do Brasil e do mundo.
          Analisando informações disponibilizadas por órgãos federais, pesquisas realizadas pela Fundação João Pinheiro -FJP- (do governo mineiro), pelo Centro de Desenvolvimento e Planejamento Regional de Minas Gerais -CEDEPLAR-UFMG- e fontes exclusivas do meio empresarial, a citada publicação consolida o “choque de realidade” proposto Olavo Machado anteriormente.
          O incomum conceito da “reprimarização” ganha significado agora: Minas apresenta uma disparidade enorme e crescente, quando se compara nossa pauta exportações e ali decresce o peso de produtos com valor agregado, na relação com os produtos primários (minério e agrícolas). Ou seja, a desindustrialização mineira tem como resultante a chamada “reprimarização”.
          Mesmo o crescimento do PIB em 2010 (10,9%), festejado como prova do dinamismo da economia regional, tem explicações simples e diretas: a demanda por minério de ferro pela China. Não fosse esse fator exógeno, nada poderia ser motivo de tanta alegria.
          Olavo Machado, agora em entrevista à referida edição da “Mercado Comum” responde pergunta que trata desse crescimento atípico: “Sempre me preocupei com avaliações feitas por média, uma vez que não contemplam toda a verdade dos fatos, inclusive suas distorções. Cada vez mais, devemos nos conscientizar de que são a microeconomia e economia local que nos dão a exata dimensão do que ocorre.”
          Para o presidente da FIEMG, estados onde a economia é mais intensiva, ou seja, pouco diversificada, é que sofreram mais com a crise. “Este é o caso de Minas, impactado de forma ainda mais forte por duas razões principais: por ter sua indústria mais concentrada em commodities minerais e agrícolas, cuja demanda mundial retraiu-se na fase mais aguda da crise, e que tem participação na formação do PIB estadual maior do que a média brasileira (32% contra 28%)”.
          Enfim, esta é a realidade mineira: se a ameaça de desindustrialização no Brasil é grande, regionalmente já se configura o fenômeno da reprimarização, como consequência de nosso processo específico da desindustrialização.
          Portanto, se Aécio Neves está preocupado com um eventual fenômeno nacional, poderia ele levar ao Senado o debate, sob a ótica do estado governado pelas suas mãos, por mais de sete anos. Deveria ele também explicar a mágica da “Minas virtual”, que propagandeou um “déficit zero” nas contas do governo (equilíbrio entre receita e despesa), excluindo a incômoda “Dívida Pública Total” do estado: R$ 67.812.919.776,51 em 31/12/2010. Ou seja, um “papagaio” de 68 bilhões que, no calote de informações tucano, são excluídos dos balanços políticos de seu governo e de seu sucessor.
          Os partidos que hoje compõem o bloco Minas Sem Censura já tem registrado nos anais da Assembleia Legislativa, ao longo dos últimos oito anos, esse quadro dramático. Atualmente, a força da realidade é tão grande, que nem o controle dos Neves sobre certas instituições do estado consegue segurar a verdade.
          Como no filme “Matrix” (dos irmãos Wachowisk) os tucanos mineiros impuseram uma imagem virtual, por sobre a realidade mineira. Parafraseando Morpheus, o líder da resistência dos humanos contra as máquinas na citada trilogia, depois do tal choque de gestão e do déficit zero propagandeado por Aécio e sua turma, convidamos a todos e todas: “Benvindos ao deserto do real”.

[i]    Fórum Democrático para o Desenvolvimento de Minas Gerais, realizado entre os dias 15 e 24 de fevereiro de 2011.
[ii]  Mercado Comum, revista nacional de economia e negócios; nº 216, abril/maio de 2011.

 

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