"Não seguirei orientação de Aécio", diz Clésio Andrade
Focado na bandeira do transporte, ele quebrará hegemonia da oposição ao Governo federal que Aécio esperava formar entre os três senadores de Minas
BRASÍLIA – Depois de mais de 15 anos nos bastidores da política de Minas Gerais, o empresário e presidente da Confederação Nacional do Transporte (CNT), Clésio Andrade (PR), finalmente deixa o papel de coadjuvante para assumir o principal. Primeiro suplente do ex-senador Eliseu Resende (DEM), falecido no último dia 2, ele será empossado nos próximos dias senador num mandato de quatro anos ao lado de Aécio Neves (PSDB) e Itamar Franco (PPS), eleitos em outubro de 2010.
Focado na bandeira do transporte, Clésio quebrará a hegemonia da oposição ao Governo federal que Aécio esperava formar entre os três senadores de Minas: trabalhará a favor do Governo da presidente Dilma Rousseff (PT) e não seguirá a cartilha que o ex-governador possa vir a ditar.
Disposto a “recuperar os oito anos perdidos da oposição estadual”, Clésio garante personalidade ao seu mandato. “Se essa oposição propagada por Aécio não for positiva para Minas, não contem comigo!”
Como deverá ser a atuação do sr. como representante de Minas no Senado?
O primeiro ponto importante é que eu apoiei a presidente Dilma com uma atuação mais presente no segundo turno. E o grupo que eu estive foi o que perdeu o Governo do Estado para ganhar o Governo federal. A minha posição como senador é apoiá-la e buscar atender interesses de Minas.
Esse trabalho será coordenado com uma interlo-cução com o Governo estadual?
Na realidade, grandes obras que se tem que fazer hoje em Minas não dependem do Governo federal, principalmente na áreas de infraestrutura, de transporte. A duplicação da BR-381 foi uma promessa da presidente Dilma que iremos reivindicar, temos a reforma do Anel Rodoviário, do Rodoanel que precisa ser feito e outros atendimentos que o próprio Governo faz diretamente. Então, o primeiro ponto é esse: junto com o Governo federal a gente procurar trazer resultados e recuperar esses oito anos que o Governo estadual foi oposição e acabou não tendo forças para conseguir resultados. Agora, não quer dizer que a gente não vá aceitar uma interlocução com o governador. A gente estará aberto ao diálogo.
A sua chegada ao Senado frustra um pouco as expectativas do senador eleito Aécio Neves que esperava ter três senadores de oposição na bancada mineira, além dele, de Itamar Franco e do falecido senador Eliseu Resende (DEM).
Primeiro gostaria de registrar aqui a admiração forte que eu tenho pelo ex-governador Aécio, sua capacidade à frente do Governo de Minas, mas eu acho que oposição é oposição e situação é situação. Não adianta comemorar oposição de três ou dois senadores dentro de um processo que vá prejudicar Minas. Se essa oposição que ele quer fazer for positiva e vá trazer resultados, com certeza vai somar conosco, agora se não for, não! Só fizemos a opção de fazer uma interlocução de situação pró-Dilma no convencimento de trazer benefícios, até porque ela é mineira e tem compromisso com nós mineiros.
Como é a relação do sr. com o Aécio?
Sempre foi muito boa, mas nos distanciamos desde janeiro do ano passado e fizemos o último contato quando discutimos a candidatura do Senado, da qual ele teve que caminhar com o Itamar e não houve condições de avançar mais nessas negociações. Como estávamos mais avançados com o PT, PMDB e todo esse grupo, eu preferi seguir apoiando a Dilma e criamos essa alternativa. Não houve mais diálogo político com ele, mas nada impede que possamos conversar. Mas não vou seguir a orientação dele de fazer oposição que vá prejudicar Minas Gerais.
O sr., como presidente da CNT, sempre fez críticas às condições das estradas brasileiras, mas o ministro dos Transportes, Alfredo Nascimento, é do PR, seu partido. Como passará a ser a sua interlocução com o ministério?
Ela irá se fortalecer, primeiro com a clareza que as rodovias melhoraram muito, mas está longe da necessidade. O Governo federal nos oito anos do presidente Luiz Inácio Lula da Silva fez investimentos seis vezes maiores do que no Governo Fernando Henrique, mas entre o avanço e a realidade há uma diferença. Vamos procurar colocar isso para o ministro, a necessidade de se colocar o ministério atuando mais fortemente, até para não haver devolução de recursos, porque todo o ano acaba não se conseguindo executar o orçamento, e as estradas, portos e aeroportos precisando.
O sr. foi suplente do ex-senador Francelino Pereira, vice do primeiro mandato do Governo Aécio, suplente de Eliseu Resende. Por que o sr. nunca disputou um cargo diretamente?
Na realidade estava preparado para disputar. Em 2002 eu seria candidato a governador. Eu tinha em torno de 4% a 5% nas pesquisas, assim como o Aécio. E por um interesse político-partidário nós achamos que ele teria mais chances. Aí acabei convidado por ele a ser vice. Em 2006, o governador Aécio queria que eu fosse candidato ao Senado, mas por questões pessoais e empresariais na CNT não havia condições. E no ano passado eu estava pronto para disputar, mas acabei inviabilizado pelo partido.
Como encara a reclamação do DEM que reclama a vaga de suplente do Eliseu como se ela fosse da legenda?
Isso é uma conversa pouco séria, porque não tem fundamento algum. Vice-governador e suplente de senador são majoritários e nada têm a ver com proporcional. São majoritários. Eles estão confundindo as bolas.
Fonte: Hoje em Dia
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